Cerca de 30 homens encapuzados e armados invadiram na madrugada de ontem o acampamento “Nego Fuba”, em Santa Rita, que tem cerca de 140 famílias. Os invasores espancaram os sem-terra, torturaram um dos líderes do movimento, roubaram objetos e atearam fogo nas moradias dos acampados.

Os trabalhadores acusam um fazendeiro da região de ter sido o mandante do crime. Segundo eles, o bando teria chegado ao local atirando e gritando que a ordem era para desocupar. Segundo o assessor de Projetos Especiais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), José Otávio Paes de Barros, a Fazenda Mumbaba estaria em processo de desapropriação para fins de reforma agrária e a invasão pode se configurar como um conflito pela terra. A polícia está investigando o caso.

Segundo os trabalhadores, os homens chegaram ao local por volta das 2h30 já atirando e mandando que todos deixassem a área. O agricultor Luís Alberto Barbosa, uma das lideranças do acampamento, disse que os homens ainda tentaram se passar por policiais. “Eles gritavam, ‘é para desocupar, é para desocupar’ e diziam que eram da polícia”, contou.

Luís Alberto afirmou que foi torturado e pego como refém, durante o tempo em que os homens permaneceram no acampamento. “Eles chegaram já atirando e assim que me viram, colocaram um capuz na minha cabeça e me espancaram. Depois eles me levaram para o mato, me amarraram numa árvore e continuaram a me bater. Consegui fugir, mas enquanto eu corria eles atiravam”, relata.

Ele falou que não conseguiu identificar nenhuma dessas pessoas porque todas estavam com capuzes. O agricultor disse que eles prometeram voltar, por isso solicitaram segurança da polícia no local. “Eles disseram que vão voltar e que vão fazer muito pior. Nós queremos segurança, queremos que a polícia garanta as nossas vidas. Tem muita gente ainda no mato, com medo de voltar”, afirma.

Os homens queimaram quase todos as barracas do acampamento, destruindo móveis, roupas, eletrodomésticos e documentos dos moradores. Os invasores também roubaram alguns aparelhos celulares, televisores e equipamentos de som.

No momento da invasão, muitas famílias correram e foram se esconder no mato, neste instante várias pessoas ficaram feridas, inclusive crianças. Os moradores contam que enquanto o bando ordenava que todos tinham que deixar suas casas, eles agrediram vários habitantes do lugar, entre eles uma mulher que estava grávida.

Homens usaram trator de fazenda
Os moradores do acampamento Nego Fuba disseram que os homens chegaram ao local em um trator. Na manhã de ontem eles encontraram o veículo abandonado no canavial e, de acordo com eles, o trator pertence ao fazendeiro Eurico Rangel. O fazendeiro é o proprietário da terra que está em processo de desapropriação pelo Incra. A reportagem foi até a casa de Eurico Rangel, mas não havia ninguém no local.

O acampamento dos trabalhadores sem-terra fica numa área da Igreja, que foi cedida a eles enquanto a desapropriação não ocorre. Essas pessoas estão à espera desse resultado há cerca de dois anos. Antes de irem para o local que estão atualmente, os agricultores já estiveram acampados às margens da BR-101. Ao todo, são aproximadamente 140 famílias residindo no lugar.

A casa do funcionário da fazenda Severino Bernardo também foi invadida pelo bando e os móveis e eletrodomésticos foram completamente destruídos. No momento da invasão, apenas os filhos deles estavam no local, todos menores de 16 anos. Os adolescentes também foram agredidos pelos homens, que segundo eles, chegaram procurando por Severino e ameaçando-o de morte. Para Severino, os homens podem ter invadido a sua residência como um aviso, porque ele é muito amigo dos moradores do acampamento.

“Eu não estava em casa na hora que tudo aconteceu, mas meus filhos disseram que eles chegaram me procurando. Eles bateram no meu filho de 16 anos e puxaram o cabelo de minha filha, de 14 anos, mandando ela correr e ainda levaram uma bicicleta e um som”, declara.

Polícia quer evitar novos ataques
Técnicos do Incra estiveram no acampamento no final da manhã de ontem e foram com os trabalhadores até a delegacia de Tibiri para que eles prestassem depoimentos. Para José Otávio Paes de Barros, assessor de Projetos Especiais do órgão, há fortes indícios que o crime tenha sido cometido a mando do fazendeiro.

“Nós queremos que o caso seja investigado e que a segurança dessas pessoas seja garantida, pois os moradores foram ameaçados de morte”, falou.

De acordo com o delegado de Tibiri, Luís Carlos Monteiro Guedes, que está a frente das investigações, o fazendeiro Eurico Rangel será ouvido sobre o assunto e que todas as providências serão tomadas no sentido de identificar os culpados. Como os sem-terra relataram que os homens prometeram voltar, o delegado designou alguns homens da Polícia Civil para permanecerem no acampamento durante toda a noite de ontem, a fim de proteger os moradores de novos ataques.

Cestas básicas

O Incra já está providenciando cestas básicas para os moradores, pois eles ficaram sem nenhum tipo de alimentação. Além disso, juntamente com a coordenação do movimento aqui na Paraíba, lonas serão disponibilizadas provisoriamente para a cobertura das barracas. Sobre o processo de desapropriação da terra, o José Otávio disse que não tem informações a respeito. “O processo é longo, justamente pelo conjunto de procedimentos que legais que têm de ser feitos”, explicou.

Assassinato

Também próximo ao acampamento foi encontrado, no final da manhã de ontem, o corpo do operador de máquinas, Ivan Francisco da Silva, de 32 anos de idade, que morreu vítima de disparos de armas de fogo. Em princípio, cogitou-se que o crime estivesse ligado ao ao conflito, mas segundo o delegado Luiz Carlos Monteiro o homicídio não tem nada haver com o caso da invasão ao acampamento dos trabalhadores sem-terra.

Segundo ele, a viúva da vítima disse que o operador de máquinas saiu de casa por volta das 4h30 e logo após ela ouviu uns disparos. Os acontecimentos no acampamento ocorreram às 2h30. Ainda não existem suspeitos para o assassinato.

O delegado garantiu que os dois crimes serão investigados pela polícia.

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