por Alberto Carlos Almeida
Diretor de Planejamento da Ipsos Public Affairs

A comparação entre 25 países, a maioria desenvolvidos, mostra que o Brasil tem o pior indicador de percepção de respeito dos direitos humanos e à liberdade individual. A proporção dos que acham que não há respeito a esses direitos no país é chocante: 90%. O Brasil é o lanterninha, seguido da Bulgária, onde 61% acham a mesma coisa, e do México e da Polônia, com cerca de 55%. Para completar a lista dos cinco piores, há Portugal (48%). No Brasil, a pesquisa foi conduzida pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Só para contrastar, vamos aos mais bem classificados. A lista é liderada pela Dinamarca, onde apenas 10% acham que esses direitos e liberdades não são respeitados. Em seguida vêm Suíça e Noruega, com proporção muito semelhante. Austrália e Alemanha completam a lista dos cinco primeiros com quase 20%. O argumento indulgente, e realista, vai apontar que o Brasil e o México, entre todos os países pesquisados, são os que apresentam os menores índices de escolaridade. Uma população menos escolarizada exige menos o respeito aos direitos humanos e à liberdade individual. Além disso, o Brasil não estaria tão mal acompanhado, a julgar pela posição de Portugal na lista.

O argumento mais crítico, à moda do “complexo de vira-latas” de Nelson Rodrigues, vai dizer que se trata de mais uma prova do nosso subdesenvolvimento e de fato tais direitos são desrespeitados quando isso poderia ser evitado por meio da ação de uma elite mais esclarecida, dotada de algum tipo de respeito em relação aos pobres.

Há, realmente, uma interação constante entre população e elite. Sabe-se, por exemplo, que a atuação da polícia é elemento crucial para moldar as percepções das pessoas acerca do respeito aos direitos humanos. No Brasil, independente de ser eficiente ou não, a polícia não é bem-vista pela população. Mas isso é segmentado, conforme estudos especializados: a polícia atua de uma maneira nas áreas pobres e de outra nas áreas mais ricas. Pessoas mais escolarizadas e de renda mais elevada exigem da polícia atuação menos violenta e mais estratégica, uma atuação mais inteligente. Elas têm os meios para manifestar essa exigência. O mesmo, porém, não pode ser dito quando se trata de favelas, loteamentos e áreas carentes.

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