Eles se encantaram com a história de luta de Margarida Maria Alves, a quem consideravam “um grito da esquerda que emergia” nas décadas de 70 e 80, filmaram o que puderam para não deixar o caso cair no esquecimento e foram parar onde não imaginavam: o Festival de Cinema de Gramado. Matheus Andrade e Mislene Santos, os diretores de Uma Flor na Várzea, o vídeo paraibano mais bem sucedido de 2006, entram em 2007 com um desafio e tanto: querem disponibilizar o trabalho em DVD. Nesta entrevista ao Falando DHireito, Matheus conta como foi se embrenhar nesta história fascinante e a dureza que foi concluir uma produção com poucos recursos.

Falando DHireito – Por que documentar a vida de Margarida? Qual o interesse na história dela?

Matheus Andrade – Primeiramente pela força histórica da personagem. O “caso Margarida”
teve repercussão mundial e representou um grito da esquerda que emergia na época e por esta razão, esse acontecimento precisa ser mais difundido na própria Paraíba. Margarida é homenageada em todo o Brasil de diversas maneiras, porém pouco estudada nas escolas e pouco conhecida na região nordeste. Ela simboliza uma história de luta por ter sido líder do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande e pelo fato de ter sido uma mulher ocupando tal posição.

FDH – O que mais impressionou ou surpreendeu na investigação da vida da líder? Houve fatos inusitados ou que te decepcionaram na biografia de Margarida?

MA – Eram surpreendentes as histórias paralelas que fomos tomando conhecimento
durante as entrevistas, como, por exemplo, a situação financeira do viúvo (Cassimiro) e seu filho (Arimatéia) após a morte de Margarida. Na verdade, nossa hipótese de partida já parecia uma decepção: o apoio de Margarida ao grupo da Várzea. No decorrer das pesquisas vimos que isso se justificava. Mesmo assim, nossa maior idéia era trazer à tona um fato ligeiramente apagado pela história heróica da líder, desta forma sugerindo uma nova visão e discussão sobre o “caso Margarida”.

FDH – Como foi o processo de produção? Muita dificuldade para rodar o vídeo? Como fizeram para dar conta do projeto?

MA – Deste as primeiras pesquisas até o lançamento, o projeto durou aproximadamente um ano. Trabalhamos da forma mais prática possível, tanto que a equipe se resume a quatro pessoas (os diretores, o editor e o still). Diríamos que houve duas grandes dificuldades: a primeira é que realizar um vídeo é sempre uma dureza. Conseguimos apoio de diversas formas: equipamento, acesso, suporte de comunicação, etc. O apoio financeiro que conseguimos não era suficiente. Terminamos tendo que colocar do bolso mesmo. Depois, a
complexidade do tema. O caso envolve uma relação de poder inacreditável. Teve gente que
nos falou para não mexer nesse ponto político da história de Margarida. Por isso, procuramos ser o mais eufêmicos possível na edição do documentário. Mas, enfim, acreditamos no projeto e decidimos que teríamos que realizar de qualquer forma, pois valeria a pena. E valeu mesmo!

FDH – O vídeo teve uma grande repercussão em vários festivais, inclusive nacionais. Como vocês receberam este retorno?

MA – Bem, até o lançamento ainda exitávamos sobre a qualidade do documentário.
Então inscrevemos em alguns festivais para tomar conhecimento do nosso próprio trabalho. O primeiro resultado foi o festival de Gramado… Foi fantástico ser selecionado para Gramado! Então passamos a acreditar no trabalho e inscrevemos em vários outros. Fomos premiados em alguns e elogiados em outros, principalmente pela Edição do vídeo, assinada por Thiago Andrade, que confere uma dinâmica narrativa fluente para o documentário.

FDH – E o público, como tem recebido o vídeo? Há perspectiva de novas exibições?

MA – A aceitação do público foi melhor do que esperávamos. Em algumas sessões
vieram pessoas querendo comprar uma cópia do vídeo, outras convidando-nos para fazer sessões em universidades e instituições educativas. E, como não poderia faltar, tinham aqueles que queriam copiar o trabalho. Desta feita, ficou a deixa para em 2007 pensarmos em confeccionar em forma de DVD, com menu e extras, para comercializarmos o trabalho.
Estamos discutindo algumas sessões no circuito universitário e esperando o resultado de mais festivais pelo Brasil. A idéia é que, acima de tudo, o vídeo seja visto. Esperamos, também, mais convites para exibir onde quer que seja.

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