Mesa que reuniu assistentes sociais que tiveram seus direitos violados durante a Ditadura (fotos: Diogo Adjuto/CFESS)

Aconteceu no último dia 19 de setembro a mesa “Serviço Social, Memórias e Resistências contra a Ditadura” durante o 43º Encontro Nacional CFESS-CRESS. A mesa buscou debater e ressaltar a opressão realizada no passado, mas, também, as que ainda ocorrem contra a população negra, jovem e pobres do país.

O debate reuniu cinco assistentes sociais, representando cada região do país, para contarem suas histórias de luta contra o regime militar, de 1964 a 1985. “Não é mais possível ocultar ou negar os crimes promovidos pelo Estado e por agentes que agiram em seu nome, que construíram essa mácula indelével na nossa história. Queremos resgatar a memória e construir a resistência”, afirmou a conselheira do CFESS Daniela Neves, antes dos depoimentos das pessoas que sofreram violência e tiveram seus direitos violados.

Quando Jorge Krug, Vicente Faleiros, Cândida Magalhães, Joaquina Barata e Rosalina Santa Cruz, assistentes sociais que vivenciaram os períodos mais sombrios do país, começaram seus relatos, o auditório foi tomado por um misto de sentimentos: comoção, angústia, dor. Mas as falas serviram, principalmente, para reoxigenar a luta da categoria contra a opressão, a violência e a violação dos direitos humanos.

Jorge Krug, 74 anos, foi presidente do extinto Conselho Federal de Assistentes Sociais. Em seu depoimento, o assistente social representante da região Sul destacou o clima de tensão e o estado de exceção que tomou o país. Ele fez questão de destacar que o serviço social, como profissão, foi capaz de resistir às ameaças do regime militar e, principalmente, se reconceituar.

Cândida Magalhães. à esquerda.

Cândida Moreira Magalhães chegou a ser diretora do Sindicato de Assistentes Sociais do Ceará. Na década de 1970, foi acusada de incitar a população contra a Ditadura, quando trabalhava com famílias em comunidades pobres. Quando se mudou para Brasília, para tentar uma nova vida, foi sequestrada. Ficou noventa dias presas. Noventa dias sob todo tipo de tortura: afogamento, pau de arara, choque elétrico. “Todos os dias saía inconsciente das sessões”, contou. Tudo isso porque a polícia a acusava de participar de uma organização que assaltava bancos. “No entusiasmo da luta, nunca nos preparamos para uma situação como essa. Uma situação de desmonte. Passei anos da vida com medo de sair sozinha. Nosso país ainda tem processos de autoritarismo, a ditadura não acabou. A suprema imposição à vida é a luta”.

A vice-presidente do CFESS, Esther Lemos, ressaltou: “essa mesa foi fundamental para darmos voz a alguns dos sujeitos que, numa histórica trajetória de lutas sociais, sofreram tortura e lutaram em defesa da liberdade, da justiça social e a revolução. Resgatar essa história é necessário, não só para que não se percam as conquistas frutos dessas muitas lutas e resistências, mas também para a mudança do presente e do futuro”. Ela ainda fez questão de destacar que este Projeto será ampliado para a América Latina e Caribe, por meio do Comitê Latino-Americano e Caribenho de Associações Profissionais de Serviço Social (Colacats).

Gritos pela desmilitarização da Polícia Militar e pela exigência de que os torturadores sejam punidos foram entoados pelo auditório. Uma coisa ficou explícita: o Brasil vive uma falsa democracia, onde a população jovem negra é a mais atingida pela violência, repressão e pobreza.

Durante a mesa, o CFESS lançou um vídeo com alguns trechos de depoimentos de assistentes sociais que sofreram violação de direitos durante a ditadura. “É mais uma homenagem do Conjunto a essas pessoas. Outros materiais serão produzidos a partir desse projeto”, afirmou Daniela Neves, do CFESS.

Vídeo: Projeto Serviço social, memórias e resistências contra a ditadura

Fonte: Portal CFESS

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