Por: Carolina Pacheco
Depois de serem retiradas de áreas de risco, dezenas de famílias da capital aguardam em abrigos municipais a ida para um local definitivo. Até lá, em meio a condições precárias muitas vão sobrevivendo na expectativa de dias melhores.
É o caso de Marcelo Serafim, de 25 anos, que há três vive com a família, composta dos três filhos, a mulher e a sogra no Abrigo Habitacional de Cruz das Armas (antiga LBA), na Rua do Rio. Retirados de uma área de barreira, que ameaçava cair, no bairro São José, Marcelo e os familiares ocupam um pequeno cômodo sem banheiro no antigo prédio. “Estamos esquecidos aqui. Não temos assistência e a situação é difícil”.
A prefeitura tem, além do Abrigo de Cruz das Armas, um outro no bairro do Cristo, onde estão provisoriamente em uma padaria comunitária e uma creche algumas famílias do Monte das Oliveiras, e outro no Distrito Mecânico. Nestes locais estão pessoas vindas de áreas de risco e outras encaminhadas pela Justiça, por morar nas ruas e em risco social.
De acordo com Marcelo, a maioria dos que vivem no abrigo de Cruz das Armas trabalha com reciclagem e na coleta de papelão, latas e outros materiais para serem vendidos em depósitos. Como faz o marido de Maria Francisca de Lima Barbosa, de 42 anos, quando não está internado. “Ele passa muito tempo no hospital e, quando volta para cá, adoece de novo, por causa da umidade e das condições de higiene”, afirma, tentando varrer alguns papéis e lixo espalhados no cômodo em que vive com os filhos de 5 e 2 anos. Para se alimentar, ela diz que pede alimentos na vizinhança.
No local, os banheiros comunitários não têm condições de uso e não são suficientes para atender as 29 famílias que moram no Abrigo. “Eles estão sempre entupidos e para dar banho nas crianças usamos um que funciona”, diz Marcelo Serafim.
Animais como ratos, escorpiões e percevejos são encontrados facilmente no local. Muitos colchões tiveram que ser queimados por causa da infestação de percevejos. “Fizemos uma solicitação de novos, mas até agora não fomos atendidos”, lembra Marcelo. Uma moradora disse já ter encontrado aproximadamente 18 ratos pequenos dentro de seu guarda-roupa.
As cerca de 60 crianças (segundo os moradores) que moram no Abrigo, freqüentemente adoecem pelas condições do ambiente, onde o esgoto corre a céu aberto. “Elas sempre são prejudicadas, fico preocupada quando minha filha adoece, porque até para conseguir assistência é difícil”, enfatizou a dona-de-casa Josilene Ferreira Lopes.
Casas serão entregues em 2007
Segundo o diretor de Organização Comunitária da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) de João Pessoa, Cleudo Gomes, todas as famílias do Abrigo de Cruz das Armas foram incluídas em programa habitacional, conforme determina a resolução federal nº 460. “As famílias serão beneficiadas com casas no conjunto habitacional Parque Sul, no Loteamento Colinas do Sul, no Grotão, que serão entregues em março do próximo ano”. Ao todo, 959 famílias oriundas de acampamentos, abrigos e outras beneficiárias de programas de auxílio social da Sedes receberão casas.
As cestas básicas começaram a ser entregues este mês e, conforme Cleudo, serão entregues mensalmente a 25 famílias do Abrigo da Rua do Rio a partir de agora. “Analisando o perfil socioeconômico, já que alguns têm renda, as 25 receberão as cestas através do Benefício de Prestação Continuada (BPC)”.
Com relação às reivindicações dos moradores, Cleudo Gomes disse que todas estão tendo encaminhamentos e que os problemas estruturais, como a colocação de um portão para aumentar a segurança, inclusive das crianças, o entupimento dos banheiros comunitários e a limpeza dos ambientes estão sendo resolvidos. “Uma equipe da Secretaria de Infra-Estrutura (Seinfra) estará nos próximos dias tomando providências com relação à questão do muro que está ameaçado de cair no local. Uma equipe do Centro de Zoonoses já fez uma dedetização do ambiente e voltará em breve para fazer novamente o trabalho como forma de prevenção. Na semana passada, agentes da Emlur fizeram uma limpeza no abrigo e, conforme Cleudo, os moradores também devem fazer sua parte, conservando. “Até que eles saiam para ir para suas casas, estaremos dando toda a assistência, não só no Abrigo de Cruz das Armas, mas no do Distrito Mecânico e do Cristo”, enfatizou.