Preservar a natureza e incentivar o descarte apropriado de lixo são os principais objetivos da Via Sacra do Meio Ambiente, promovida pela Rede de Juristas Populares e a Fundação Margarida Maria Alves pela primeira vez em João Pessoa e há quatro anos em Santa Rita. A partir das 9h de domingo (24), cerca de quinze pessoas entre moradores (as), Juristas Populares e ativistas do Grupo S.O.S. Rio Cuiá percorreram as principais ruas do bairro do Grotão, entregando panfletos e informando os (as) moradores (as) da importância de preservar o meio ambiente.
Começando pela nascente do Rio Cuiá, as dez paradas da Via Sacra marcavam pontos críticos do descarte inapropriado do lixo e do descaso do poder público com os (as) moradores (as) daquela região. Eram bocas de lobo abertas, esgoto corrente como cachoeira e trechos do Rio completamente poluídos.
Socorro Miranda, da Rede de Juristas, salientou que “o esgoto foi canalizado para o Rio Cuiá desde o início da construção das casas”. Isso fez com que o rio ficasse completamente inapropriado para a pesca ou o banho. Marilene Alves Vieira, presidenta da Comunidade Primeiro de Abril, conta que há apenas alguns anos, em 1993, as pessoas ainda tomavam banho no local: “Eu vi essa comunidade nascer, moro aqui há 27 anos. Muitas pessoas frequentavam a piscina natural do Rio, inclusive eu. Na época em que o bandido Focinho de Porco foi preso, começaram a deixar de frequentar, mas o abandono aconteceu por causa da poluição, mesmo”.
Para José Marcos Salgueiro, técnico responsável pela Rede, a ação foi importante porque a comunidade reconheceu o trabalho. Juarez Neto, de 15 anos, participa da S.O.S. Rio Cuiá porque “vale a pena contribuir para preservar a natureza”, e acrescentou: “consciência não tem idade”. Para Renildo dos Santos, também da Rede de Juristas, existe uma falta de planejamento do Poder Público, além da falta de consciência da população. Ele citou as casas que haviam sido construídas irregularmente, muitas vezes ao lado de bocas de lobo que jorravam dejetos, prejudicando sua estrutura. “Eles colocam essas casas aqui de qualquer jeito e, depois, tiram. Isso prejudica ainda mais essas famílias”.
Após a sétima estação, encontramos José Fidélis dos Santos, pescador. Ele contou que, há anos, pesca camarão na praia e no Rio Cuiá, mas, hoje, está muito difícil viver disso: “Pescamos o dia todo e às vezes não pegamos nada. É culpa da poluição”, ele diz, salientando também a culpa das indústrias que se estabeleceram ali perto. Para ele, devia haver uma filtragem dos resíduos antes de serem jogados no rio. Na parte de cima da Rua do Arame, na Comunidade do Arame, a Jurista Popular Maria Aldenora Bezerra de Sousa, que mora no local, contou que existem cerca de 130 pessoas vivendo praticamente em cima do lixo da feira que acontece ali perto. Na frente de um banheiro público construído para os (as) feirantes, hoje inutilizado, uma situação absurda: tambores de lixo transbordam de dejetos.
O catador de lixo José de Assis da Cunha, que chegou na hora em que os (as) participantes da Via Sacra analisavam a situação, conta que a Cagepa já foi contactada a respeito do esgoto, mas alega que o carro de manutenção não pode descer a ladeira. “O Governo não vê a situação das famílias lá embaixo”, ele disse, indignado. “Quando as fossas entopem, quem vai lá ajeitar sou eu”.
Mas, no meio de tantos problemas, existe esperança. A S.O.S. Rio Cuiá, parceira da Fundação, promoveu, naquele mesmo dia, uma atividade que pintou e fez pequenos reparos nas casas de algumas pessoas mais carentes. A ONG promove oficinas práticas de tintas de argila, a chamada Geotinta, de tinta de resíduo de gesso e de reboco Ecológico (Solocimento). É com esses materiais que as casas da comunidade são pintadas. Alexandre Jorge Pereira Tomás, vice-presidente da ONG, contou que esse trabalho já foi feito na Comunidade Asa Branca há cerca de quatro meses. Para ele, a Via Sacra e a Rede de Juristas completam o trabalho que a S.O.S. Rio Cuiá desenvolve: “A gente precisa de muita ajuda pra melhorar isso aqui”, finaliza.