Dr. José Ewerton Nóbrega
Ex-professor da UFPB e advogado

O Correio da Paraíba, na edição de 14 de março, destaca reportagem sobre a declaração do papa Francisco, de que o seu papado “será breve”. Com isso, o pontífice jogou uma ducha fria na imaginação de muitos de que ele se manteria no posto até a morte

Francisco lança ao mundo mais uma de suas ousadas “boutades” que vêem caracterizando o seu pontificado. Quem sabe, não estaria ele apontando aos ínclitos cardeais que já está na hora de se pôr em prática o exercício do cargo papal por mandato temporário?

Embora não sendo eu católico e nem praticante de outro credo, reconheço que a Igreja Católica é uma instituição religiosa relevante, já contando com vários séculos de existência. Mas, absolutamente, isso não quer dizer que ela seja imutável, eterna, como me parece pretender ser. Não. O seu suseranato espiritual, tal o seu mando sobre a consciência e a conduta social de todos, esse já passou e há bastante tempo.

Francisco é o primeiro papa que vem se conduzindo de maneira informal no trato com as pessoas, seja autoridades seja humanos em geral. Exemplos disso foram apontados nos meios de comunicação. O sumo pontífice tem traduzido essa informalidade tanto nas atitudes fora do padrão da sacralidade (p. ex., ele recebeu em pé, no Vaticano, os jogadores de futebol de time argentino, e lhes apertou descontraidamente as mãos, além de haver conversado animadamente com eles sobre coisas do futebol daquele país, pelo qual é apaixonado), como na linguagem, escrita ou falada, que utiliza para interagir com terceiros, sejam estes de que credo for. Não há negar que tudo isso e o mais que Francisco vem fazendo é um passo importante para as mudanças positivas das relações da Igreja com a Sociedade.

Em assim observando, ouso interpretar a recente declaração do chefe da Igreja como uma sugestão, senão uma recomendação, aos “iluminados” da Cúria Romana (refiro-me, mais uma vez, aos cardeais) para que o novo papa seja eleito para um mandato temporário. Tomara que suas palavras não caiam no vazio político. Tomara que outras mentes religiosas esclarecidas corajosamente façam coro com Francisco e reforcem a sugestão papal. E que nesse esperado crescendo de opiniões se juntem outras, igualmente oportunas, visando a democratização da Igreja nesse processo de substituição não só do chefe máximo da Instituição, como de todos os demais intermediários (bispos, cardiais, priores, “et coeteri”).

De minha parte, sugiro que as eleições, para a escolha do papa (para limitar-me, agora, só a esse exemplo) sejam realizadas pela via direta, com a participação de todo o corpo confessional (padres, bispos, cardeais e o próprio papa), de acordo com regras geralmente postas em prática nos estados democráticos; que todos os bispos católicos sejam naturais candidatos àquele posto, atendidos alguns requisitos estabelecidos pelo consenso da comunidade episcopal; que o processo eleitoral esteja a cargo de uma comissão especial, a quem competirá proclamar o eleito, dispensada, assim, a farsa do forno ora com cinza preta, ora com cinza branca.

Como visto, tudo o que vai aqui tratado, comentado e sugerido, diz somente respeito a aspectos do procedimento eleitoral que se espera, um dia, ser adotado pela Igreja. Todavia, quanto ao essencial – aquilo que se refere aos dogmas/mistérios da Igreja – a Instituição continua hermética e absolutamente avessa a abordá-los. O próprio Francisco já o disse, quando, em recente contato com os jornalistas, ao ser indagado sobre a eventualidade de reexame de certo dogma eclesial, respondeu que o assunto já fora decidido pela Igreja e, como tal, não seria objeto de qualquer discussão. Para questões de fé, o papa Francisco é um fiel porta-voz das decisões do corpo cardinalício. Tal como sempre o foram os seus predecessores!

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